quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Voltando com Rubem Alves.


Rubem Alves tem o dom de nos transformar com suas palavras-sentimentos. Essa mágia acontece comigo, pode acontecer também com vocês, se permitam.


Rubem Alves falando de Barthes: “ antes de ser um intelectual que admiro, é um homem que amo. Eu o amo por que somos parecidos. Sei disso sem nunca tê-lo encontrado”. É exatamente assim que sinto com Rubem Alves, o encontro em meu coração e gosto de compartilhar estes encontros aqui.
Alguns momentos do Livro Variações sobre o prazer, mais uma obra prima do Rubem Alves.
A poesia nos torna mais sábios, retirando-nos do torvelinho agitado com que a confusão da vida nos perturba.
...pois é isso que a poesia faz: ela nos convida a andar pelo caminho da nossa própria verdade, os caminhos em que mora o essencial. Se as pessoas soubessem ler poesia é certo que os terapeutas teriam menos trabalho e talvez suas terapias se transformassem em concertos de poesia!
Nossa quanta luz de nosso Rubem Alves, é de emocionar!
Continuando. A consciência da morte nos dá uma maravilhosa lucidez. D. Juan, o bruxo do livro de Carlos Castañeda, viagem a Ixtlan, advertia seu discípulo: “essa bem pode ser a sua última batalha sobre a terra”. Sim, bem pode ser. Somente os tolos pensam de outra forma. E se ela pode ser a última batalha, que seja uma batalha que valha a pena. E, com isso, nos libertamos de uma infinidade de coisas tolos e mesquinhas que permitimos se aninhem em nosso pensamento e coração. Resta então a pergunta: “o que é essencial?”. Um conhecido meu, místico e teólogo da igreja ortodoxa Russa, ao saber que tinha um câncer no cérebro e que não lhe restavam mais que seis meses de vida, chegou a sua esposa e lhe disse: “inicia-se aqui a liturgia final”. E, com isso começou uma vida nova. As etiquetas sociais não mais faziam sentido. Passou a receber somente as pessoas que desejava receber, os amigos com quem podia compartilhar seus sentimentos. Eliot se refere a um tempo em que ficamos livre da compulsão prática – fazer, fazer, fazer. Não havia mais nada a fazer. Era hora de se entregar inteiramente ao deleite da vida: ver os cenários que ele amava, ouvir as músicas que lhe davam prazer, ler os textos antigos que o haviam alimentado.
O fato é que, sem que o saibamos, todos estamos enfermos de morte e é preciso viver a vida com sabedoria para que ela, a vida, não seja estragada pela loucura que nos cerca.
Lembrei-me das palavras de Walt Whitman: “quem anda duzentos metros sem vontade/anda seguindo o próprio funeral/vestindo a própria mortalha...”.
Pensei então nas minhas longas caminhadas pelo meu próprio funeral, fazendo aquilo que não desejo fazer, fazendo porque os outros desejam que eu faça. “ sou o intervalo entre meu desejo e aquilo que o desejo dos outros fizeram de mim...” Fernando Pessoa. Sou esse intervalo, esse vazio – de um lado, o meu desejo(onde foi que o perdi?); do outro lado, o desejo dos outros que esperam coisas de mim. Não são os inimigos que me impõe o intervalo. Inimigos:não lhes dou a menor importância. Os desejos que me pegam são os desejos das pessoas que amo – anzóis na carne. Como tenho raiva do Antoine de Saint-Exupéry – “tornamo-nos eternamente responsáveis por aqueles que cativamos...” Mas isso não é terrível? Ser responsável por tanta gente? Cristo, por amar demais, terminou na cruz. Embora não saibamos o amor também mata.
Então, abandonar o amor? Não. Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir as mãos” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.

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