sábado, 20 de agosto de 2011

Aconteceu na sexta feira!



Estava comigo mesmo escutando o primeiro CD do Flavio Venturini assim que saiu do 14 Bis, quando chegou Thiago, amigo conquistado em Terras Blumenauenses. Perguntei se já conhecia o Flavio, sim e começou a cantarolar Espanhola, um dos maiores Hinos do Flávio. Em seus Shows, Espanhola era pedido do início ao fim de cada apresentação e não rara era executada duas vezes, uma delas no Bis.

Fui apresentando “novas” canções do Flavio, que Thiago desconhecia, diante do seu encantamento me empolguei, apresentei Lo Borges,Milton, lembranças vinham de meu coração, voltei aos meus 16 anos, 17 talvez, quando encontrava com os alguns amigos para ouvir 14 Bis, Milton Nascimento, BetoGuedes, O Clube da Esquina,vieram lembranças dos primeiros shows no CircoVoador, Circo Esperança,Teatro João Caetano e Também Teatro Rival;teve um Show inesquecível no Canecão: Minas in Concert, onde a Galera das Gerais se apresentou algumas vezes!

“E os meus amigos, dispersos pelo Mundo a gente não se encontra mais para cantar aquelas canções que disparavam nossos corações” canta 14 Bis, os velhos sempre amigos de tantas canções Rogério, Maurício,Savio e Aroldo Barros(já na TV Globo RJ) onde arranjávamos um horário para ouvir Raul Seixas, Zé Geraldo( ...tudo isso acontecendo e eu aqui na praça dando milho aos pombos),Zé Ramalho e Roberto Carlos; a vocês meus amigos, como já disse alguém “ saudade é o Amor que fica”.
Voltei ao aqui e agora, estava tocando Que Bom Amigo do Milton, gravação ao vivo no Palácio das Artes, de Belo Horizonte, em 22 de setembro de 1994, diz a Canção:

Que bom, amigo
Poder saber outra vez que estás comigo
Dizer com certeza outra vez a palavra amigo
Se bem que isso nunca deixou de ser

Que bom, amigo
Poder dizer o teu nome a toda hora
A toda gente
Sentir que tu sabes
Que estou pro que der contigo
Se bem que isso nunca deixou de ser

Que bom, amigo
Saber que na minha porta
A qualquer hora
Uma daquelas pessoas que a gente espera
Que chega trazendo a vida
Será você
Sem preocupação

Neste mesmo CD há um texto de Gilberto Dimenstein que não posso deixar de compartilhar...
Pescador de Ti.
Sentados a beira do rio, dois pescadores seguram suas varas a espera de peixe. De repente, gritos de crianças trincam o silêncio. Assuntam-se. Olham para frente, olham para trás. Nada. Os berros continuam e vêm de onde menos esperam. A correnteza trazia duas crianças, pedindo socorro. Os pescadores pulam na água. Mal conseguem salvá-las com muito esforço, eles ouvem mais berros e notam mais quatro crianças debatendo-se na água. Desta vez, apenas duas são resgatadas. Aturdidos, os dois ouvem uma gritaria maior ainda. Dessa vez, oito seres vindo correnteza abaixo.

Um dos pescadores vira as costas ao rio e começa a ir embora.o amigo exclama:
-você está louco, não vai me ajudar?
Sem deter o passo, ele responde:
- faça o que puder. Vou tentar descobrir quem está jogando as crianças no rio.

Essa antiga lenda indiana retrata como nos sentimos no Brasil. Temos poucos braços para tantos afogados. Mal salvamos um, vários descem o rio abaixo, numa corrente incessante de apelos e mãos estendidas. Somos obrigados a cair na água e, ao mesmo tempo, sair a procura de quem joga as crianças.

Incrível como homens as margens do rio conseguem conviver com os berros. E até dormir sem sobressaltos. É como se não ouvissem. Se o pior cego é aquele que não quer ver, o pior surdo é aquele que não quer escutar.

Descobrimos que os responsáveis pelos afogados não estão escondidos rio acima. Estão do nosso lado - e, muitas vezes, somos nós mesmos. São os afogados morais, gente que não conhece o prazer infinito da solidariedade. Não conhece o encanto de estender poucos centímetros de braço e encostar o dedo nas estrelas.

Tão fácil agarrar uma estrela, refletida no brilho de quem salvamos por falta de ar.

Veio da Índia a frase do célebre poeta Rabindranath Tagore sobre por que existam crianças. “São a eterna esperança de Deus nos Homens”.

É preciso mesmo infinita paciência, renovada a cada nascimento, para que se possa conviver com a apatia cúmplice. Por sorte temos pescadores que, dia após dia, mostram como as crianças sobrevivem nos homens. E como é doloroso o parto de um homem precoce no corpo de um menino.

A voz do Milton é a própria síntese do menino perdido no adulto; e do adulto perdido no menino. É a síntese de quem se viu obrigado a pular na água para pescar a si mesmo. E nunca se esqueceu e, por isso, não consegue tirar de seus ouvidos a sensação de que a criança na água pedindo socorro, são a última voz de quase nunca tem voz.

Um comentário:

  1. Meu amigo, Maneco.

    Como é ótimo relembrar o passado e poder sentir os momentos felizes que marcaram um vida muito bem vivida. Isso é nobre. É lamentável que alguns indivíduos só conseguem lembrar das experiências díficeis que viveram, achando que tudo não faz sentido.

    Muitas delas não conseguem andar para frente porque não conseguem tirar os olhos do retrovisor.

    Esquecem-se do que é o mais belo e valioso: A VIDA. Única, maravilhosa e generosa, razão pela qual deve ser tratada com todo o respeito e carinho.

    Obrigado por me apresentar algumas músicas lindas que desconhecia.

    Que bom, amigo!

    Abraços.

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